Este livro é um só estado de alma, analisado de todos os lados, percorrido em todas as direções. A inspiração chega de formas imprevisíveis. Uma imagem entrevista, uma frase entreouvida, um cheiro que desperta uma lembrança, uma conversação, uma notícia no jornal, uma repentina ideia surgida na cabeça coisas tão simples podem dar origem a um poema, um quadro, uma sinfonia, ou até a um complexo sistema filosófico. Acontece que a mais deslumbrante obra em prosa de Fernando Pessoa, uma obra que perdurará como um dos monumentos literários do século XX, nasceu de uma só palavra: desassossego, que agitou a alma de Pessoa em 1913, mais precisamente em 20 de janeiro. Nesse dia redigiu, numa folha solta, o poema «Dobre» [ ] Ao lado do poema, pondo a folha na horizontal, rabiscou, em letras grandes, «O título Desassocego», sublinhando o vocábulo em grafia antiga com um traço bem vincado. Trata-se de uma palavra simultaneamente comum e misteriosa, rica em matizes significativos e sem um bom equivalente noutras línguas, pois nem o desasosiego do espanhol consegue ser tão «desassossegado». Todo o Livro do Desassosse